Acabou o campeonato e com ele o suplício de uma época desastrosa. Não apenas pelo terceiro lugar, por não se ter ganho (mais uma vez) qualquer troféu, mas porque fica a nítida sensação que se podia ter feito muito melhor. Desde logo, com o dinheiro usado nas contratações, que foi muito mal aplicado, tirando o caso de Dost. Com outro tipo de soluções, teria sido possível atacar muito melhor a época, não desgastando sempre os mesmos jogadores numa fase decisiva em que estávamos envolvidos em várias competições em simultâneo (Novembro-Dezembro) e poderíamos ter tido outros horizontes. Sobretudo com um Benfica abaixo do que fez na época passada e com um Porto claramente fraco e irregular.
Depois, fica a nítida sensação de que desde muito cedo o balneário ficou instável e com mau ambiente. Se foi devido ao: “a diferença está no treinador” que Jorge Jesus, em mais uma das suas tiradas egocêntricas e petulantes, produziu no rescaldo do jogo de Madrid, ou se depois da intervenção destemperada do presidente em Chaves, de forma audível para quem estava no exterior, em que descompôs e insultou os jogadores, não o sabemos. De qualquer forma, esses dois episódios constituíram apenas a face mais visível de erros que foram cometidos e que gradualmente conduziram a um divórcio dos jogadores com o treinador e com o presidente e que só não levaram a um rompimento do presidente com o treinador porque há pelo menos uma dúzia de milhões de euros de razões para que isso (ainda) não tenha acontecido. Provavelmente há muito mais que isto… por exemplo, sabemos que os campeões da Europa se mantiveram no clube na época anterior algo contrariados. Claro, que por princípio, defendo que os jogadores devem ficar no clube o tempo suficiente para que deles se possa extrair rendimento desportivo e saírem na altura certa, que corresponderá a uma grande oferta, não frustrando as suas expectativas que por muito que nos custe, são naturais. Mas para isso, têm de ser tratados de forma transparente e com rectidão, não lhes prometendo o que depois não se cumpre e não os humilhando. Ou seja, é preciso saber lidar com os recursos humanos e não os hostilizar ou desvalorizar. Mais uma vez, aqui há um longo caminho a percorrer.
Além de tudo o mais, ficou claro desde uma fase precoce na época, que seriam os jogadores, os bodes expiatórios de tudo o que corresse mal a partir dessa altura. Quer pelos sinais que foram sendo dados por alguns blogues que colocam acima de tudo a defesa da Direção, quer mesmo por intervenções públicas de pessoas que são próximas desta, como Pedro Baptista quando colocou em causa o profissionalismo de William, entre outros. Obviamente que seria completamente utópico pensar que tudo isto deixaria o plantel e a carreira da equipa fora de toda esta turbulência. Claro que esta culpabilização dos jogadores procurava preservar o treinador (porque era preciso pagar-lhe muito para sair) e a Direção (porque quer manter-se fora de contestação). Percebe-se ainda que o regresso antecipado de jovens valores emprestados em Janeiro, correspondeu mais a um sinal que a Direcção quis passar aos sócios do que genuína vontade do treinador em contar efectivamente com eles para o seu plano de jogo.
Ninguém gosta de viver num clima de passa-culpas, nem de quando não se assumem responsabilidades que são sempre colectivas. Ao contrário do que tentam fazer passar o presidente e o seu porta-voz Saraiva, a cultura de exigência que os adeptos devem ter não se resume a exigir rendimento dos atletas – o que obviamente teremos sempre de fazer. A cultura de exigência, prende-se com todos os elementos do clube que têm responsabilidades nos resultados. Quem contratou os jogadores e o treinador? Quem contratou os jogadores, que agora são tidos como únicos culpados? Quem gosta de assumir qualquer vitória como troféu, seja ela qual for e que foge nas derrotas?
Ninguém pode passar pelos pingos da chuva nesta hora, nem o treinador, nem muito menos o principal responsável pelo clube. A sua hora da verdade chegou, Bruno de Carvalho. Pode continuar agarrado aos 86% e achar que vão durar muito tempo, fazendo o que lhe apetece, alterando a agenda do clube devido à sua agenda pessoal, como acontece agora com a questão da Gala, ou dando mostras de romantismo pueril de adolescente na tribuna do Clube – não que eu seja especialmente puritano, mas porque sinceramente… não havia necessidade de mais uma vez baixar o nível de representação institucional do clube. Pode achar que pode atacar de forma gratuita os atletas das modalidades e os treinadores, (mais uma vez: quem os escolheu?) incluindo os poucos casos que têm dado títulos ao clube como no futsal, ou numa altura em que a equipa de andebol ainda tem possibilidade de ganhar 3 títulos: campeonato, Taça Challenge e Taça de Portugal. Pode entender que pode calar a voz da indignação dos adeptos, dos sócios e pelos vistos também das claques. Pode achar que está acima do clube, apostar na ignorância dos adeptos e abusar da sua boa-fé e pensar que o clube está aos seus pés. Pode pressupor que como estamos há 15 anos sem ganhar um campeonato, a nossa paciência é infindável. Mas depois não se queixe, nem diga que não foi avisado… e não se esqueça que quem sofre é o Sporting.
Ontem, tivemos mais um exemplo do que está a acontecer e de que o clube está a ferro e fogo, nesse barómetro que são as claques. Existiu a tarja dos 20 minutos em silêncio como protesto pelo rendimento da equipa (colocando mais uma vez o foco unicamente nos jogadores…). Mas também existiram tarjas a questionar as contratações - “reforços cirúrgicos?” e uma a referir: “só o Sporting é insubstituível”, esta última pelos vistos bastante incómoda para quem dirige o clube. Tivemos inclusive tarjas a atacar os jogadores, chegando ao ponto de visar individualmente Ruben Semedo e a desejar-lhe “bon voyage”. Independentemente do que ele possa ter feito, deveria ter existido algum bom senso em não desvalorizar desta forma um activo do clube, que agora fará toda a pressão para sair ou que, se ficar, o fará extremamente contrariado. Se a filosofia agora e na linha do discurso do bardamerda da noite da eleições, é renegar e expulsar do clube todos os atletas que não sejam adeptos do Sporting, talvez seja bom perceber que não é isso que conduz ao sucesso nem sequer a prática seguida pelos rivais. O que estará sempre em causa é o profissionalismo dos atletas. Já que BdC tanto gosta de se comparar com o Benfica, talvez seja altura de perceber que o segredo está em atrair talento para o clube, em lhes dar depois as condições necessárias (onde se inclui tranquilidade e competência) para que possam evoluir e potencializar as suas características. Isto é válido para jogadores, mas também para dirigentes, tendo o rival nos seus quadros pessoas que eram adeptas do Sporting e competentes como é o caso de Domingos Soares de Oliveira. Deixe de ser bacoco e de visões curtas, que quem perderá será sempre o clube. A cultura de ódio que se está a instalar na sociedade em relação ao Sporting e que extravasa já os adeptos dos principais rivais, deveria dar que pensar a qualquer pessoa sensata. Mas infelizmente não é esse o caso de quem actualmente ocupa o lugar de presidente da nossa instituição. Quem semeia ventos colhe tempestades… neste caso mais se poderá dizer que quem semeou tempestades poderá colher um furacão.
PS: em outro post irei abordar as perspectivas que se levantam para a nova época. Já agora, gostaria de reafirmar que nada me daria maior alegria a mim e aos meus companheiros deste blog, do que vir celebrar vitórias e sobretudo títulos do clube, por muito pouco que confie nesta Direcção para nos conduzir ao sucesso. O Sporting está sempre acima de tudo. Espero ainda poder vir a comemorar no andebol (excelente vitória na primeira mão da final da Taça Chalenge), no futsal e nos escalões jovens do futebol, num fim-de-semana que até nos correu de feição em termos de resultados. Endereço os meus sinceros parabéns às campeãs de futebol feminino e de rugby e aos nossos juvenis e iniciados que venceram os rivais no futebol.
Aos nossos leitores, dizer-lhes que são livres de discordar ou concordar do que aqui dizemos, mas nada nos desviará do caminho que escolhemos: defender genuinamente aquilo que no nosso entender, são os superiores interesses da instituição Sporting Clube de Portugal.
Sporting sempre!