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O Sporting é a paixão que nos inspira. Não confundimos competência com cultos de personalidade. 110 anos de história de um clube que resiste a tudo e que merece o melhor e os melhores de todos nós. Sporting Sempre


Muito se tem especulado acerca da crise de resultados do Sporting. Muito se tem presidencializado a questão, colocando o ónus dos recentes desaires na pressão colocada nos jogadores, nas cenas inqualificáveis em Chaves, etc. Tem-se negligenciado estudar os comportamentos colectivos da equipa que a relegam presentemente para um frustrante 3º lugar (à condição...) a 7 pontos do rival Benfica quando no início da época, face à aparente qualidade à disposição do treinador e às ambições claramente assumidas pela Direcção e Equipa Técnica, se apontavam todas as baterias ao título.

 

O resto é história. Eliminados da Liga dos Campeões antes do 6º jogo; impossibilitados de participar no prémio de consolação chamado Liga Europa; eliminados da Taça de Portugal num jogo onde se rubricou a pior exibição da época; eliminados da Taça da Liga pela média de idades.

 

Embora tocando aqui e ali em questões do foro directivo, o presente texto analisará o desenho táctico do Sporting Clube de Portugal, partindo deste texto, do autor Daniel Oliveira, do blog Ontem Vi-te no Estádio da Luz, espaço que me habituei a frequentar e a qual aproveito para saudar publicamente. Denuncia o consulado de Luís Filipe Vieira; luta em prol de alternativas credíveis para liderar um clube centenário; discutem o clube, um pouco como todos nós procuramos fazer neste nosso espaço; e, sobretudo, percebem muito de futebol. Exceptuando um dos escribas do blog, todos os autores demonstram um domínio muito acima da média das subtilezas do desporto-rei. Não tenho sequer a pretensão de me equiparar a eles. Pretendo apenas contribuir para a discussão acerca do momento do Sporting, desta vez sob a perspectiva do que é produzido dentro das quatro linhas.

  1. Concordo com o autor quando refere a pobreza do comentário desportivo de Rui Santos: a despeito de uma resposta recente muitíssimo bem dada ao nosso imbecil parasitário do Nuno Saraiva, Rui Santos não percebe nada de futebol jogado e, mesmo no jogo de bastidores de que afecta possuir informações, falha muitas vezes: estamos a falar do comentador que dizia ter informações seguras de que Oriol Rossell não reforçaria o Sporting, ao mesmo tempo que afiançava a sua indiscutível qualidade como médio defensivo;
  2. Intitulei o texto desta forma porque me parece redutor assumir-se a inevitabilidade de certos desfechos em futebol; aliás, a inevitabilidade de qualquer desfecho que seja; podem arriscar-se previsões, mas o futebol é demasiado complexo e humano para se poder ter uma certeza absoluta da infalibilidade do que se está a propor; é nesse sentido que se compreende que os modelos mais sofisticados a vigorar no Velho Continente coloquem a tónica na redução da aleatoriedade, no privilégio das decisões, no futebol apoiado e no equilíbrio constante em lugar da vertigem e da verticalidade a toda a prova;
  3. Isto para dizer que discordo de quem acha que Jorge Jesus sempre montou as suas equipas da mesma forma; Jorge Jesus jogou futebol apoiado que privilegiava o corredor central em 2009/2010 e em 2015/2016: foi campeão em 2010, não o foi em 2016; mas também jogou com duplo pivot em 2014/2015 quando visitou o Sporting de Marco Silva em Fevereiro de 2015, entregando completamente a iniciativa de jogo ao adversário; na primeira metade da época de 2013/2014, Óscar Cardozo, a braços com um processo disciplinar por ter empurrado o seu mister na final da Taça de Portugal perdida para o Vitória de Guimarães de Rui Vitória, foi o abono de família do Benfica, um pouco à semelhança do que Bas Dost é agora;
  4. Jorge Jesus já testou várias formas de jogar; já teve sucesso com algumas; já fracassou com outras; essencialmente, Jorge Jesus, a despeito do enfoque no 442, dos laterais ofensivos e do médio de chegada a área, já mostrou ser capaz de tornar competitivas as equipas que treina, ainda que tenda a concordar com as críticas ao seu egocentrismo insuportável, ao facto de ser um manager sofrível (não péssimo… ele queria Zivkovic, Cervi, Mitroglou e Danilo…) e um líder pouco consensual (não mau… apesar de tudo, todos os jogadores reconhecem a dívida de conhecimento que têm para com este mister, mesmo futebolistas que se deram mal com ele, como Aimar ou, mais recentemente, Schelotto);
  5. Assim, não tendo tido sucesso no ano passado, não significa que Jesus tenha abdicado de jogar do mesmo modo este ano: pelo contrário, o Sporting vence os quatro primeiros jogos do campeonato jogando da mesma forma que tão bons resultados e exibições lhe tinha valido na temporada transacta: foi JUSTAMENTE o advento de resultados menos positivos que fizeram o treinador modificar um aspecto central desta filosofia de futebol apoiado e controlador: o corredor central;
  6. Por isso, discordo em absoluto dos que rasgam as vestes pedindo ao treinador que molde a equipa de forma a municiar Bas Dost, ponta-de-lança que apresenta um registo de finalizações verdadeiramente excepcional: o que as pessoas querem dizer com isto é que se deve privilegiar o jogo aéreo do avançado holandês, beneficiando da fantasia de Gelson Martins e dos incessantes cruzamentos de outros extremos, como Campbell;
  7. Exemplo disto é o jogo com o Belenenses: a assistência é de Joel Campbell; a finalização é de Bas Dost. No entanto, o golo é quase todo de Gelson que poderia ter optado por solicitar Castaignos, que aparecia em boa posição de finalização. No entanto, ao colocar em Joel, apanhou a defensiva em contrapé (posicionada que estava para fazer face à ameaça que Castaignos representava) e fê-la esquecer-se do sempre oportuno Bas Dost. Gelson não assistiu; Gelson não marcou; Gelson inventou com a sua criatividade o golo;
  8. É verdade que no ano passado, com Slimani e João Mário, “Os jogadores actuavam mais próximos e com isso defendiam melhor, pressionavam melhor, corriam menos e multiplicavam as linhas de passe.” Mas este ano o Sporting jogava assim também, com Gelson e Bryan a descaírem para o meio, oferecendo a largura aos laterais; mais, no ano passado, o segundo avançado não funcionava tanto como 10 (Téo tinha outras valências tácticas que não a distribuição de jogo) como Bruno César funciona este ano… quando joga a segundo avançado: nisso estou de acordo com o autor: Bruno César tem de jogar nesta posição sempre e nunca a lateral-esquerdo embora, sendo extremamente inteligente, consiga desempenhar a função com competência;
  9. Ainda assim, o texto apresenta uma falha clamorosa: mais que Bruno César, cuja presença a lateral-esquerdo se deve talvez à iminência de venda de Zeegelaar e ao facto de Jefferson não ter a confiança de Jorge Jesus, Alan Ruiz parece-me, presentemente, o melhor segundo avançado que o Sporting possui;
  10. Dito isto, fruto de maus resultados, o treinador cumpriu com aquilo que os adeptos reclamavam: a equipa passou a usar mais as laterais e a procurar minuciar Bas Dost, embora ainda mantendo aquilo que desespera os adeptos: a manutenção de posse de bola e o desenvolvimento de algum futebol apoiado, para além da preocupação permanente com as movimentações de Dost que o treinador já admitiu publicamente querer que o holandês dê melhores apoios frontais, tabele com os seus companheiros e se posicione rapidamente para finalizar;
  11. Note-se que, mal o Sporting privilegia o corredor central, as coisas correm logo de outra maneira: as primeiras partes com o Feirense e com o Paços de Ferreira mostraram um Alan Ruiz a jogar por dentro, a percepcionar muito bem o jogo, a colocar a bola no timing certo, a pautar o jogo de outra forma;
  12. Dito isto, discordo de que Jesus tenha abdicado das suas ideias de um ano para o outro: quanto muito, tê-las-á modificado em função dos maus resultados, privilegiando um jogo mais directo que, ironicamente, era o que a maior parte dos adeptos do Sporting desejavam e, se me permitem a observação, não se aperceberam, na sua grande maioria, de que não resultava: a insistência de Jesus nas acções de Bas Dost não é por acaso;
  13. Dito isto, é a maior crítica que lhe posso fazer: não se ter mantido fiel à fórmula que tão bom resultado deu no ano passado, não mantendo a aposta em Alan Ruiz (em vez de andar a experimentar segundos avançados) ou, em alternativa, em Bruno César;
  14. Dito isto, espero, para bem do Sporting, que se continue a privilegiar o futebol apoiado, pausado e pouco vertiginoso daquelas primeiras partes, sendo necessário trabalhar com urgência a dimensão psicológica, para que qualquer contrariedade num jogo aparentemente já ganho não provoque erros desnecessários e comprometedores.

João Mário.jpg

SPORTING SEMPRE

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editado por Ivaylo a 25/2/17 às 11:57


2 comentários

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De Anónimo a 01.02.2017 às 21:13

O post é grande não dá para responder tudo de uma vez.

Mas uma resposta rápida, se assim entender, convido-o a ir verificar as estatísticas do Sporting na Champions, nomeadamente a parte dos kms, em 2015 e este ano, talvez encontre aí a resposta.
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De Pastelão Tecnicista a 01.02.2017 às 21:19

Terá de me elucidar, meu caro.

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