Bruno de Carvalho deu uma longa entrevista ao Record, parecendo prolongar a lua-de-mel com o grupo Cofina de quem já se disseram cobras e lagartos... mas adiante. Devido à sua extensão, a entrevista teve de ser dividida em duas partes.Irei comentar neste post a primeira parte e para facilitar essa tarefa, irei fazê-lo por tópicos.
1) Hesitação na candidatura
A primeira questão colocada prendeu-se com o caráter dúbio da mensagem de Natal de BdC, em que se deixava aberta a porta a uma saída do Sporting. Na resposta, o presidente do clube fez uma nova referencia ao facto do sócio Bruno de Carvalho estar sempre muito atento ao presidente Bruno de Carvalho e que no meio do mandato fez uma Assembleia Geral sobre esse assunto. Quando novamente confrontado com a questão das dúvidas que sentiu (e que duraram poucos dias) falou na falta de militância... a ideia que fica é que se tratou duma encenação com o único propósito de revelar desprendimento pelo lugar – o que sabemos ser pouco credível a julgar pelo afinco com que defende algo com que pelos vistos sonhou desde criança - e quiçá de provocar uma “vaga de fundo” para que se recandidatasse.
2) Falta de militância
Não é a primeira vez que BdC faz esta acusação. Algo estranha quando o número de sócios aumentou e as assistências rondam os 40 mil por jogo (números do clube) e isso quando o Sporting continua sem ganhar um campeonato ao fim de 15 anos. Mas afinal... a falta de militância a que se refere é aos sportinguistas que podem ter posição pública sobre o clube como presidentes de Câmara, deputados, procuradores... Referir-se-á a maior Lobbying? Talvez alguns deles possam fazer parte da tal “Comissão de Honra” onde parece que cabem todos, desde não sócios, ex-croquetes, benfiquistas, etc e aí ele lhes possa transmitir o que pretende...
3) Negação de populismo
Depois de fazer uma primeira alusão ao único opositor conhecido, Pedro Madeira Rodrigues (PMR) que referiu que BdC foi importante por provocar, numa fase incial, uma rutura com uma dinastia, o presidente do Sporting afirmou “detesto a palavra populista, bem sei que alguns a usam de uma forma simpática, referindo-se a alguém de quem as pessoas gostam, mas na maior parte das vezes é um termo utilizado para significar demagogo. Isso chateia-me, porque se há coisa que nunca fui, foi populista” (!!!). Admitindo que BdC acredita nesta afirmação, isto talvez seja suficientemente eloquente em relação à sua capacidade de auto-análise.
4) Auditorias
Em resposta à questão sobre o que pensa fazer para acabar com a tal “falta de militância”, BdC diz que afinal muito já foi feito nestes quatro anos, que os chavões o irritam e que foi isso que PMR fez e depois passa de ruturas para... as auditorias. Neste ponto faz uma completa embrulhada em que diz que uniu os sportinguistas mesmo criando ruturas e que nunca usou o passado para justificar o que não fez... e destaca a forma elevada como se fizeram as auditorias e como se comunicaram os resumos das mesmas. Diz que depois (quando?) os sportinguistas podem consultar o documento e que as pessoas visadas se podiam ter defendido tal como sugeriu JEB. Na sequência de uma sugestão de um jornalista sobre se não faria sentido realizar uma auditoria externa a cada final do mandato, BdC respondeu que achava perfeito, mas que neste momento não era exequível... Quando confrontado com a proposta de João Paiva dos Santos de realizar essa mesma auditoria no fim deste mandato, diz que ele o deve sugerir nas Assembleias Gerais. Acrescenta que a carta em que João Paiva dos Santos o solicitava nem tinha sido elaborada por ele por não lhe reconhecer capacidade para o fazer e que só se "queria fazer de importante". Em jeito de comentário, não se percebe como considera uma coisa (auditoria no final do mandato) simultaneamente perfeita e profundamente irritante, de tal forma que o leva a insultar o proponente. E já agora, afinal o que deram as tais auditorias? Houve ilícitos que lesaram o Sporting de forma dolosa ou a montanha pariu um rato?
5) Pedro Madeira Rodrigues
Depois de há uns dias, falando logo a seguir ao outro candidato, BdC o ter feito num clima de “paz e harmonia”, chegando até a “oferecer” o auditório Artur Agostinho a PMR dizendo que não precisava de apresentar a candidatura em hotéis (por acaso foi essa a forma que BdC também escolheu anteriormente...), o candidato BdC mandou às urtigas o presidente BdC pacifista. Para ele, PMR apenas usou chavões, como o “do seu projeto estar esgotado”. Negando com veemência, perguntou se querem que ainda aposte mais na formação. Não se percebe é se se refere à primeira época ou a esta em que se contrataram uma carrada de pseudo-craques caros e que se revelaram flops, levando a que agora se tenham de mandar regressar no mercado de Inverno jogadores da formação que há uns meses apenas não serviam porque os que vinham eram superiores... refere ainda que temos planteis nas modalidades dos melhores. Pois... melhores são os que ganham. E no nosso caso, tirando o futsal, as coisas não vão nada bem encaminhadas nem no hóquei, nem no andebol. O que temos são planteis absurdamente caros. Em vez de estarmos a fazer mais com menos, como prometeu antes de ser eleito, agora parece que cada vez fazemos menos com mais. Em resposta à acusação de PMR de que o mandato de BdC equivaleu a títulos para os rivais, BdC defendeu-se dizendo que antes dele isso também aconteceu. Sem dúvida, mas foi BdC quem disse que ia mudar a face do Leão e levar-nos às vitórias e que os rivais querem que ele saia porque está a incomodar. Onde está esse incómodo se continuamos a ver os outros ganhar? Depois faz a habitual colagem do opositor ao Benfica. A receita que já anunciara antes de ser conhecido o seu nome, quando deu a entender que qualquer candidatura que surgisse teria o apoio do Benfica. Pelos vistos, foram bastante subtis ao escolherem um associado do Sporting com 35 anos de filiação para apoiarem... E mais à frente, diz que isso do “ganhar” como promete PMR está esgotadíssimo e se é ele (BdC) que tem falhado os golos e deixado as bolas entrarem... portanto as derrotas do clube estão mesmo órfãs, como aconteceu nos últimos 15 anos. Só o tal incómodo aos adversários tem paternidade assumida neste mandato. Ainda não se percebeu é o que significa em termos práticos.
6) Processos em tribunal
No passo seguinte, refere que colocou 3 processos a sócios que o acusaram de bater em miúdos da Academia e de ter comprado um cofre para colocar o dinheiro que roubou. Referiu ainda que ao ir a tribunal também se colocou a ele em cheque. Uma vez que não ganhou nenhum dos processos, o que podemos concluir então?
7) Comissões
Comentando aquele que tem sido um dos tópicos mais polémicos, até porque BdC prometera que com ele iam acabar as comissões superiores a 10%, referiu que o valor médio das comissões desta Direcção em compras é de 3,94 % e de 5% nas vendas. Sustenta ainda que tirar dinheiro a um clube é facílimo e que ninguém nota... ainda bem então que BdC estará acima de qualquer suspeita. De outra forma, esta afirmação seria altamente preocupante. Ou então, justificaria a tal auditoria ao mandato com a maior brevidade possível.
Mas voltando às Comissões... e à questão do valor médio: num exemplo hipotético se tivermos 9 jogadores comprados por 100 mil euros e pagarmos em cada caso 1% de comissão e 1 jogador que custar 4 Milhões e em que pagamos 1 milhão de comissão (25%) a média paga nos 10 casos é de 3,4%... O que foi prometido não foi que não se pagaria nenhuma comissão acima de 10%? Refere ainda que quando falta um euro nas contas, a pessoa tira do seu próprio bolso só para não ter problemas com ele. Deve ser o tal incómodo que BdC causa...
8) Liderança
Segundo BdC quem quer ser líder ou presidente tem de pretender apenas isso e não ter assumido/pretendido um lugar de menor importância. Diz até que, desde que acabou o curso, lidera... ou seja não interessa nada a aprendizagem que se faz, a progressão que se possa ter ao longo do tempo. É como se quem entra para uma empresa só possa aspirar a CEO se nunca tiver sido nada antes com menos importância e que tal percurso não fosse importante para estar completamente preparado. Curioso conceito resumido na frase “eu não gosto de ser liderado, é uma coisa que me cansa”...
9) Propostas futuras
Quando confrontado com o que os pilares em que vai assentar a candidatura, diz que vai consolidar o que já fez – talvez conviesse que fosse mais específico – e que não está isolado, ao contrário do que se diz. E dá como exemplos a eleição de Pedro Proença para a presidência da Liga, em que o Sporting esteve do lado do vencedor. Sem dúvida, embora com as consequências práticas que se conhecem... Dá ainda como exemplos o vídeo-árbitro e o combate aos fundos, de que o Sporting foi a grande voz nesta matéria, segundo o entrevistado. Claro que há os fundos maus e os bons, como será o caso da Traffic com quem o clube assinou um protocolo que não terá nada a ver com compra de jogadores, segundo o entrevistado. Então resta perguntar, tem a ver com quê?
Portanto, contrariamente ao que muitos pensam, o Sporting não está isolado. Porque ajudou a ganhar Pedro Proença, propôs o vídeo-árbitro e até já faz parcerias com fundos...
Hoje há mais. O presidente-candidato que não se acha populista, que não pode ser responsabilizado porque não marca ou defende golos, que não teme ser auditado mas que se irrita com quem o propõe, que não se acha isolado, que só sabe liderar (conhecerá o verdadeiro significado da palavra liderança?) ainda terá certamente muito a propor e explicar aos sócios do Sporting e a mostrar que o Sporting é nosso e não dele como alguém, certamente mal intencionado, poderia concluir deste tipo de discurso...