Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O Sporting é a paixão que nos inspira. Não confundimos competência com cultos de personalidade. 110 anos de história de um clube que resiste a tudo e que merece o melhor e os melhores de todos nós. Sporting Sempre
O famoso romance queirosiano Os Maias (pessoalmente o de que mais gosto do tio Eça) possui uma das cenas mais inspiradas da literatura portuguesa: o jantar no Hotel Central, ao Cais do Sodré (que já nem existe). Antes da fabulosa cena apoteótica entre o titã realista João da Ega e o vate romântico Tomás de Alencar, os comensais discutem a saúde financeira do país. A dada altura:
“Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o País ia alegremente e lindamente para a bancarrota.
- Num galopezinho muito seguro e muito a direito – disse o Cohen, sorrindo.”
Peço, desde já, desculpa aos leitores mais impaciente por este intróito literário. Peço também desculpa pelo meu longo silêncio neste espaço. Senti apenas a inutilidade do meu esforço. Hoje, contudo, a ocasião é demasiado urgente para continuar calado.
Não, não pretendo dissertar acerca da (reconhecidamente débil) saúde financeira do Sporting. Não, não pretendo aprofundar a dor de que todos já padecemos. O conceito de bancarrota que serve de mote a este texto é de natureza moral. O Sporting foi ontem destituído de qualquer autoridade moral que ainda lhe restava. O Sporting consumou ontem a sua bancarrota moral.
Por 5 vezes o Sport Lisboa e Benfica foi impedido de chegar ao tetracampeonato. 2 delas pelo Futebol Clube do Porto. 3 delas pelo Sporting, a última das quais especialmente saborosa porquanto foi coroada por uma dobradinha no precioso ano de 1974 e com a marca até hoje inigualada de Hector Yazalde, cifrada nos 46 golos.
Durante 48 anos (1954-1998) tal marca foi pertença exclusiva do nosso querido Sporting Clube de Portugal. Sofremos a indignidade de ver o Futebol Clube do Porto a igualar-nos e, no ano seguinte, a transcender esse feito. Ontem, o nosso maior rival entrou, por mérito próprio, no mesmo clube de tetracampeões, garantindo, no mesmo jogo, o 3º lugar ao Sporting Clube de Portugal. Haverá maior humilhação que esta? Ganham-nos o campeonato, empurram-nos desdenhosamente para fora da luta e, como prémio de consolação, ainda nos dão o chocolate da pré-eliminatória da Champions.
Quanto a vós não sei, mas ontem foi o dia mais triste que já vivenciei como sportinguista. Mais que a final da Taça UEFA desgraçadamente perdida em nossa própria casa. Mais que Maio de 2013, há precisamente 4 anos, com a confirmação de um miserável 7º lugar. É que, em 2005, ainda se lutava. Em 2013 sabíamos que era uma questão de tempo até algo mudar.
Desta vez, é mais grave… Estamos pior do que nunca, mas não há mudança à vista… Serão os próximos 4 anos iguais aos que nos foram infligidos até agora? Continuará a desculpabilização?
É que, não sei se se aperceberam, mas o Benfica ganhou em toda a linha. E ganhou porque é melhor em toda a linha. Porque é demasiado poderoso para não ganhar. Pode não ter melhor treinador, mas tem melhores jogadores. Pode ter um ladrão condenado e alegado traficante como Presidente, mas tem Domingos Soares de Oliveira como administrador de topo da SAD. Pode ter Pedro Guerra como bandarilheiro encartilhado, mas tem Rui Costa como Director Desportivo. Pode ter a porta 18, mas faz negócios como ninguém em Portugal, ao nível do marketing. Pode estar refém de Jorge Mendes, mas ainda consegue jogadores do calibre de Jonas. Pode enfiar barretes como Renato Sanches, mas tem o Seixal que, neste momento, vence em toda a linha quaisquer infra-estruturas que tenhamos em Alcochete. Podem até nem ganhar em futsal, mas ganham em hóquei, em voleibol e, brevemente, serão mais competitivos que nós em andebol, outra modalidade histórica do Sporting onde a incompetência passa por “bloqueio mental”.
Eles desforraram-se deliciosamente de nós em cada canto. O Sporting não lhes pode apontar nada. O Sporting está a braços com uma bancarrota moral que não lhe permite arrecadar louros de nada. Bate recordes negativos uns atrás dos outros. No entanto, o mais grave mesmo é a falta de perspectiva de melhoria. O futuro é sombrio porque nada vai mudar. Os erros repetir-se-ão. A desresponsabilização continuará. O Sporting não tem tempo a perder e, no entanto, continuará a perdê-lo.
Talvez conviesse demonizar menos e trabalhar mais. Seguir o bom exemplo alheio. Começar por baixo. Construir pela base. Profissionalizar. Servir o Clube. Por ora, apenas miséria nos aguarda. Miséria alicerçada em passadismo. À semelhança de tudo neste Sporting, não basta afirmarmo-nos, temos de o demonstrar. Até lá, seremos sempre um clube de ocasião que, de quando em vez, faz uma gracinha.
Para quando, Sporting? Para quando competitividade a sério? Para quando cumprir-se o Clube?
Sporting Sempre
PS: Perdoem-me o texto desconexo. Brevemente lançarei um texto mais estruturado acerca dos vícios e problemas estruturais do Clube a que urge fazer face.
Os sportinguistas seguiram com natural ansiedade o evoluir do último dia de mercado de Inverno.
Embora na época anterior, por esta altura, se tenha efetuado uma troca altamente lesiva para os interesses do Sporting e quem sabe se decisiva para que não se conquistasse o campeonato, com a saída de Montero, que marcou alguns golos importantes e a vinda de Barcos que não marcou nenhum, a verdade é que se esperava por uma recomposição do plantel que o tornasse mais competitivo.
Por um lado, promoveu-se acertadamente o regresso de Podence e Francisco Geraldes, dois jogadores que curiosamente não tinham contado no início da época, mas que agora já se considera serem superiores a outros que foram contratados por valores altos e com ordenados elevados, como Petrovic, Elias, Markovic e Meli. O argumento de que precisavam de crescer causa estranheza, porque se em poucos meses puderam evoluir num clube modesto e ajudá-lo em simultâneo a conquistar uma Taça da Liga –troféu ganho pelo Moreirense e não pelo Sporting, sublinhe-se....- o que teria sido se tivessem tido essa oportunidade no Sporting, apreendendo os métodos do treinador e estabelecendo automatismos com os colegas, em vez de o terem de fazer nesta altura?
Além disso, terão também “regressado” Gauld e Geraldes, que estavam emprestados ao Vitória de Setúbal, mas que aparentemente por represália depois deste clube nos ter derrotado, entendemos cessar o referido empréstimo e reencaminhar os atletas para o Chaves. Como o Setúbal não esteve pelos ajustes e não consentiu, os dois jogadores tiveram de regressar ao Sporting. E agora vêem assim interrompida a sua evolução e correm até o risco de não poderem jogar, se o Vitória de Setúbal mantiver a sua inflexibilidade. A forma como tudo isto ocorreu é lamentável, reveladora de uma total falta de respeito pelos atletas, criando-se mais um conflito com um clube com quem tínhamos estabelecido anteriormente boas parcerias e sem pensar nas consequências.
Petrovic foi emprestado ao Rio Ave, Elias já tinha sido vendido ao Atletico Mineiro, Meli foi transferido para o Racing Avellaneda, interrompendo-se o empréstimo, à semelhança do que acontecera com Markovic, que teve como destino o Hull City. Só aqui estão 4 “reforços” de Verão que nada acrescentaram à equipa. Não se conseguiu colocar André, o tal jogador que Jorge Jesus considerava o novo Liedson, cuja saída do clube anterior tinha merecido uma festa dos respetivos adeptos e que nunca conseguiu convencer. Paulista, um dos jogadores cuja contratação foi das mais incompreensíveis e obscuras, envolvendo um clube angolano como intermediário, o Recreativo de Caala e que se tornou conhecido por ser um lesionado crónico, incluindo... "graves" problemas dentários e Castaignos, mais uma contratação falhada, também não conseguiram ser colocados.
Numa altura em que se acendeu uma ténue esperança com a derrota do Benfica em Setúbal, ficando o Sporting a 7 pontos da liderança e ainda na corrida pela participação na Champions, já depois de se ter vendido João Pereira, o Sporting voltou a não contratar laterais. Esta situação que já começa a ser caricata, só pode revelar que de facto o clube está em situação financeira debilitada, ao contrário do que se tenta vender aos sócios, pois de outra forma não se entende esta desistência de tentar ainda colocar a equipa a lutar pelo escasso objectivo a que se encontra reduzida. Aliás a vinda dos jogadores da formação, só pode ser entendida por não existir músculo financeiro e como manobra eleitoralista, para se dar a entender que se vai voltar a apostar nos nossos jovens valores, depois do despesismo inconsequente e gravoso do início da época.
Portanto, terminando mais esta janela de transferências, o sentimento dos sportinguistas só pode ser de profunda desilusão. Por se perceber que esta época tem todas as condições para continuar a correr mal e que a Direcção não apostou em inverter o rumo dos acontecimentos e em tentar devolver algum do orgulho ferido aos sportinguistas. Está à vista o resultado de uma época desastrosa, mal planeada e de se ter chegado ao último ano do mandato de Bruno de Carvalho sem uma estrutura à altura desse nome para o futebol.
O que todos nós valorizamos são as vitórias prometidas, mais que saber que Ricciardi, um elemento que tem sido denominador comum ao período croquetiano ou José Eduardo, pessoa sem qualquer credibilidade, fazem parte de qualquer Comissão de Honra de fachada.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.