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O Sporting é a paixão que nos inspira. Não confundimos competência com cultos de personalidade. 110 anos de história de um clube que resiste a tudo e que merece o melhor e os melhores de todos nós. Sporting Sempre
Ainda no rescaldo da estrondosa vitória de Bruno de Carvalho nas eleições do Sporting, em que obteve cerca de 86% dos votos, enquanto o seu adversário Pedro Madeira Rodrigues se limitava a uns modestos 9% e os brancos se contabilizavam em 5%, gostaria de tecer algumas considerações e reflexões adicionais.
Em primeiro lugar, a dimensão da vitória é uma oportunidade perdida de fazer com que BdC corrija vários erros que tem vindo a cometer na presidência do Sporting e que também têm contribuído para o insucesso desportivo que se vem registando. Na verdade, o agora reeleito presidente do Sporting pensará que tem toda a legitimidade para continuar a gerir o clube exactamente da mesma forma como o tem feito até aqui, podendo inclusive acentuar alguns traços autoritários e egocêntricos, bem como decisões arbitrárias. E na verdade tem essa legitimidade e quem lha conferiu foram os sócios.
Encontram-se assim avalizadas a estratégia de Comunicação e discurso completamente sem filtro (como se viu no dia das eleições), a continuação das publicações de Nuno Saraiva no Facebook, na maioria das vezes a zurzir nos rivais de Lisboa e nos seus comentadores e até a promoção de amigos do presidente para cargos para os quais não revelam a menor qualificação ou competência, como é o caso de André Geraldes para Director Desportivo.
Tudo isto será um erro, com consequências nefastas para o Sporting e mesmo a médio prazo para BdC, mas não é provável que algo se venha a alterar nestes domínios.
Claro que se BdC tivesse ganho com uma menor percentagem e os votos brancos fossem mais expressivos, a margem de manobra seria menor e talvez fosse obrigado a revelar algum bom senso, reflectindo sobre as decisões e estratégias erradas que têm vindo ultimamente a ser seguidas. Não foi isso porém que aconteceu, como sabemos e podemos assim esperar mais e pior do mesmo.
Considerando agora o outro lado da questão, o resultado das eleições constitui uma excelente oportunidade para que, quem se quer constituir como oposição construtiva e assumir uma eventual alternativa a este rumo, possa reflectir qual a melhor estratégia e porque falhou tão rotundamente a proposta e candidatura de PMR.
Em primeiro lugar, nestes 86% cabem muitos votos. Temos gente que votaria BdC mesmo que este decidisse mudar os equipamentos e o nome do clube, pessoas que estão reconhecidas pelo que de bom se fez no mandato – reestruturação, Pavilhão e aumento da competitividade desportiva, mesmo partindo dum ponto muito mau como foi o sétimo lugar e não se tendo conquistado qualquer campeonato – que no fundo acreditam ainda neste presidente e acham que merece um segundo mandato e por fim pessoas que não se reviram minimamente em PMR e preferiram BdC. Estes últimos, se tivesse surgido uma candidatura mais credível e sustentada, provavelmente até poderiam ter-lhe atribuído os seus votos.
Depois, houve uma inteligente colagem do candidato derrotado aos rivais e ao passado recente negativo e doloroso do Sporting, por parte dos apoiantes de BdC e essa estratégia já tinha sido desenhada mesmo antes de se saber quem era. Portanto, muitas pessoas também foram votar porque recearam que o clube voltasse ao rendimento desportivo da era Bettencourt e Godinho Lopes, sobretudo em relação ao futebol. Para este objectivo foi montada uma campanha pela máquina de propaganda de BdC (sendo o Mister do Café um dos seus principais pontas-de-lança), primeiro fazendo a identificação de PMR com um blog crítico de BdC, depois com a estratégia e críticas do rival e finalmente com o tal passado. O candidato, pese embora toda a sua boa-vontade e voluntarismo, facilitou a tarefa, ao apresentar propostas que não estavam bem sustentadas e hierarquizadas e entrando no tal discurso belicoso em que BdC tão confortável se sente. O resto… já sabemos.
Bruno de Carvalho é um presidente que se alimenta de conflitos e das emoções que aí se geram. Claro que sem emoção e paixão não se vive o desporto. Mas estas devem ser canalizadas para o apoio incondicional ao clube e não para qualquer culto de messianismo. Mas é isto que se tem passado. Quanto mais conflitos lhe criarem ou ele próprio gerar, mais forte ele fica junto da massa associativa. Nessa altura o que se torna mais forte junto dos sportinguistas é o impulso da defesa da figura mais representativa do clube. E isso foi muito bem usado nestas eleições.
A própria Comunicação Social, que lhe é hostil, embora ele muito vá fazendo por isso, tarda em perceber esta realidade. Na verdade artigos que o ridicularizam ou sondagens tão ridículas como a publicada pelo Correio da Manhã ou em canais de TV, falando em disputa taco-a-taco entre as duas candidaturas, desconsiderações e ataques pessoais que são feitos a BdC e até insultos, só unem mais os sportinguistas em torno do presidente e facilitam a estratégia de vitimização que ele tanto aprecia e utiliza.
Mas isto também é válido para quem internamente (leia-se sportinguistas) não se revê na sua actuação. Percebe-se que BdC gera ódios ou paixões e que é difícil o meio-termo. Porém misturar críticas válidas e pertinentes sobre a sua estratégia com insultos e ataques pessoais, mesmo que estas possam ter impacto, só afastam quem é moderado e quer apenas o bem do Sporting, do conteúdo válido que possam conter. Mesmo que tenham impacto e visibilidade, só reforçam a popularidade deste presidente. Portanto, é importante centrarmo-nos na razão e deixar a emoção e os ódios para Bruno de Carvalho. Neste momento, ou ele muda a sua actuação e consegue entrar no caminho do sucesso (pessoalmente não acredito, mas ficaria muito feliz se tal acontecesse e não me custaria nada reconhecê-lo) ou apenas sairá do lugar que ocupa, quando ficar evidente à maioria dos sócios que não serve para nos conduzir ao sucesso que todos desejamos. Para já tem um trunfo importante, ninguém gosta de reconhecer que se enganou ou de se desiludir.
Veremos numa primeira fase, como descalça a bota Jorge Jesus e a sua renitência em apostar na Formação, quem vai sair do plantel e qual a receita gerada, como vai ser a qualidade e o número de contratações a serem feitas e como se inicia a próxima época de futebol, sendo que o terceiro lugar nesta época é provável mas ainda não está assegurado. Por outro lado, será também importante verificar qual o desempenho das modalidades principais do clube até ao final da época. Esta será claramente a hora da verdade para esta Direcção e para este presidente. E sobretudo, os títulos têm de deixar de ser prometidos e passar a ser conquistados.
Por isso, cá estaremos para o elogiar se o justificar, mas também para o criticar se persistir em tratar os sportinguistas como autómatos e escravos dos seus impulsos e excessos, sempre orientados pelo que achamos melhor para o Sporting. Sem lugar para a emoção ou questões pessoais, mas sempre tentando argumentar e usar a razão.
Sporting sempre!
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